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Da África ao Brasil

  • liligaltran
  • 29 de out. de 2016
  • 5 min de leitura

Dia 28 finalmente pude voltar a ouvir músicas no meu velho Ipod de guerra. E ao ouvir uma das minhas milhões de músicas preferidas, um samba, composto por Cláudio Russo, J. Veloso, Carlinhos do Detran e Gilson Dr, que se intitula: "Áfricas - Do berço real à corte brasiliana", soube imediatamente que ele seria meu próximo post do blog. Porque de repente me surgiu a idéia de falar de coisas que misturam o antigo e o atual. Com tantas discussões sobre economia, crises e reformas, vamos deixando de lado o que o Brasil tem de maior valor. E não, não estou falando das praias (embora goste delas), nem dos brasileiros (não vamos ser convencidos) e muito menos da organização do pais (que convenhamos não é la essas coisas) mas estou falando da cultura que é a maior e mais desprezada riqueza do país.

Infelizmente, a cultura sempre passa por velha, ultrapassada e fora de moda; metida a besta, humilhando os que a desconhecem; ou simplesmente sem graça, banal e manjada. Mas eu acho, e aqui vem a minha pequena contribuição, que essa cultura é o que o Brasil há de mais lindo e que merece todas as atenções, por mais manjada ou antiga que pareça e que aqueles que a admiram e falam dela não devem ser considerados metidos que humilham os outros com seu conhecimento. Conhecimento é bom e feito pra se compartilhar e foi isso que vim fazer hoje aqui "traduzindo" essa música q eu adoro e que tem mil e uma referências à cultura negra e africana que tanto contribuíram a nossa cultura. Então, se você só curte metal, forró ou musica cristã se dê uma chance de ouvir essa música pelo menos uma vez na vida e se não garanto que vocês também vão gostar, garanto que o que vou dizer será instrutivo.

Essa música é de 2007 e foi enredo da escola vencedora do carnaval. A beleza da música é justamente isso, unir o antigo (história dos escravos do Brasil) com a realidade de hoje (o carnaval e o samba que o mundo inteiro conhece nem que seja só de ouvir falar). Eis então a letra e a música:

Áfricas - Do berço real à corte brasiliana

Calunga cruzou o mar

Nobreza a desembarcar na Bahia A fé nagô yorubá Um canto pro meu orixá tem magia

Sou quilombola Beija-Flor Sangue de Rei, comunidade Obatalá anunciou Já raiou o sol da liberdade (bis)

Olodumarê, o deus maior, o rei senhor Olorum derrama a sua alteza na Beija-flor Oh! Majestade negra, oh! mãe da liberdade África: o baobá da vida Ilê ifé Áfricas: realidade, realeza, axé Obatalá Calunga cruzou o mar Nobreza a desembarcar na Bahia A fé nagô yorubá Um canto pro meu orixá tem magia

Machado de Xangô, cajado de Oxalá Ogun yê, o Onirê, ele é odara

É Jeje, é Jeje, é Querebentã A luz que vem de Daomé, reino de Dan Arte e cultura, Casa da Mina Quanta bravura, negra divina (bis)

Zumbi é rei Jamais se entregou, rei guardião Palmares, hei de ver pulsando em cada coração Galanga, pó de ouro e a remição, enfim Maracatu, chegou rainha Ginga Gamboa, a Pequena África de Obá Da Pedra do Sal, viu despontar a Cidade do Samba

Olodumarê

Então dobre o Rum Pra Ciata d`Oxum, imortal Soberana do meu carnaval, na princesa nilopolitana Agoyê, o mundo deve o perdão A quem sangrou pela história Áfricas de lutas e de glórias

Sou quilombola Beija-Flor Sangue de Rei, comunidade Obatalá anunciou Já raiou o sol da liberdade (bis)

Xangô

Pra quem, como eu, não conhece nada dessa cultura fica até dificil entender a letra. Então vamos lá!

Vou pesquisar, e dividir as minhas pesquisas com vocês, sim, sim, estou pesquisando agorinha mesmo e está interessantíssimo, é como descobrir uma parte da história da qual a gente nao fala muito. Indo bem além do famigerado Pedro Álvares Cabral que "descobriu" o Brasil e da princesa Isabel que acabou com a escravidão. É a cultura do lado oprimido, dos escravos que aparece aqui. A minha proposta é simples: eu explico o vocabulário e depois você relê a musica e vai entender tudo bem melhor, vai ter até algumas surpresas como "a rainha ginga" que a gente acha q é a ginga de dança e não é.

Oxalá

Calunga: São espíritos sábios, vividos.

Nagô yorubá: Pessoas escravizadas que falavam yorubá, oriundas do sudoeste da Nigéria, do Benim e do Togo.

Orixá: São ancestrais divinizados africanos, os orixás se manifestam através de emoçoes assim como seres humanos normais.

Obatalá: O mais velho dos orixás, criador do mundo, dos homens, dos animais e plantas. Simboliza a paz e a fé.

Olodumarê: O ser superior que criou a existência,o universo e os Orixas, bem dizer: Deus!

Olorum: É um titulo de Olodumarê, pela sua criação do Orun (mundo espiritual, o céu).

Ilê ifé: Antiga cidade Yoruba do sudoeste da Nigéria

Axé: Termo Yoruba que significa "energia", "poder" e "força"

Xangô: Orixá do fogo e do trovão, protetor da justiça.

Oxalá: É o mesmo que Obatalá, se refere ao mesmo Orixá.

Ogun iê: Expressão em Yorubá sobre Ogum, Senhor do ferro, da guerra, da agricultura e da

tecnologia.

Onirê: Quer dizer "Senhor da aldeia" em yorubá. se refere a Ogum.

Odara: Como aqui esta usado como adjetivo é provavel que o sentido seja: comunicação, paciência, ordem e disciplina o que derivou no significado atual de beleza.

Jeje: Também chamados de Daomeanos são oriundos do Togo, Gana e Benim que falavam fon, éwé, mina,fanti e ashanti.

Querebentã: Um filho do rei Akabá do Daomé. Ele era um Tohossu, ou seja uma pessoa que nasceu deformada e que por isso é considerada um espírito da água encarnado.

A pedra do Sal

Daomé: Antigo nome do Benim, reino de Daomé.

Reino de Dan: Foi um dos mais difíceis de encontrar, mas acho que é o próprio reino de Daomé, já que em língua fon ele se chama "Danhomè"

Casa da mina: É um templo de Candomblé, o original fica no Maranhão e é chamado de "Casa das minas". O local foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)

Zumbi: O mais conhecido da lista. Foi o ultimo líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi nasceu na capitania de Pernambuco numa região que hoje pertence a Alagoas

Galanga: É um tipo de gengibre que veio da Ásia.

Maracatu: Todo mundo sabe que é uma música/dança. Teve origem nas congadas (que recriam a coroação de um rei/uma rainha do Congo) e no sincretismo religioso, misturando assim elementos católicos com os do candomblé.

rainha Ginga: Foi uma rainha de Angola, primeiramente se converteu ao cristianismo e se aliou aos portugueses e depois os combateu pois eles não cumpriram o tratado que tinham com ela , depois de muitas guerras conseguiu estabelecer uma economia que não dependia do tráfico de escravos.

Gamboa: Bairro do Rio de Janeiro onde surgiu a primeira favela de que se tem notícias.

Obá: Mulher orixá, esposa de Xangô. Extremamente forte ela representa as águas revoltas.

A Pedra do sal: Monumento histórico e religioso localizado no bairro da Saúde no Rio de Janeiro. Núcleo simbólico da região chamada de Pequena África onde reuniam-se grandes sambistas do passado.

Dobrar o rum: O rum é um instrumento musical, um atabaque com um registro mais grave. Dobrar o rum significa tocar num repique lento, sequencial e cadenciado.

Ciata d'Oxum: Tia Ciata foi uma Mãe de santo e uma figura influente para o surgimento do samba carioca. Ela era "filha de Oxum"

Agoyê: Não encontrei, mas talvez seja uma junção dos termos Yorubás "agô" e "iyê" que querem dizer, "com licença mãe"

E ai? Gostaram? Eu achei mega interessante, mas confesso que foi difícil também. Mas adorei descobrir mais sobre o Yorubá, sou fascinada por línguas. Enfim, descobri muitas coisas que eu não sabia e aprofundei outras que só conhecia assim por cima. Essa música tem um texto forte, de luta, de uma história difícil que até hoje tem consequências terríveis que foi a escravidão. É sempre bom a gente lembrar dessas coisas pra não cometer os mesmos erros do passado, né?

Tia Ciata

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